quarta-feira, 11 de abril de 2018

{relato de parto} Diana chegou!

Nascimento de Diana

fotos por Via Lua - registros de vida e arte


DPP: 06/04
DN: 30/03
[IG 39 semanas]
[Capurro 37 semanas]
[3,105 kg / 50cm]
[apgar 10/10]
[lasceração 0]
[Salvador-BA]
[Parto Domiciliar Assistido pela equipe Sobreparto]
[Doulagem Lia Sfoggia]


Eu nunca imaginei estar escrevendo isso no meu blog, pois ter filhos não esteva entre meus planos de vida.
Mas ela veio por vontade própria, se instalou, cresceu dentro de mim e cá chegou ao mundo, na hora dela, no momento perfeito, sábia, divina e brilhante, Diana!
Numa sexta-feira santa, primeiro dia da Lua Cheia, 30/03, 18:48, muito auspiciosa essa filha de bruxa! =)

Tive uma gestação saudável, apenas repouso no segundo trimestre devido à um sangramento e risco de placenta baixa, que "subiu" com o crescimento do útero.

Relato abaixo todo nosso itinerário, porque tivemos que sair de Parnaíba e porque acabamis por optar por um parto domiciliar assistido. Quem tiver curiosidade só pelo dia do parto, pula pro último tópico!

CPN em Parnaíba: nosso 1o plano caiu por terra.
Moramos em Parnaíba, uma cidade litorânea do Piauí. Desde o começo da gravidez eu e meu marido nos "empoderamos" com informações sobre Parto Natural e projetamos que o parto seria na Casa de Parto Normal (CPN) que estava para ser inaugurada antes da minha DPP. Apesar de poucos leitos na CPN (5 apenas, para uma cidade de 250mil habitantes que recebe demanda de outras cidades do PI, CE a MA), estávamos felizes e confiantes no local e na equipe que parecia muito simpática a noção da humanização do parto. Porém, lá pras 27 semanas de gestação nossa confiança caiu por terra: a inauguração da CPN parecia cada vez mais distante e por isso fomos visitar o Hospital (SUS) referência em humanização na cidade, e lá fomos recebidos com muita presteza, mas com "novidades" que nos desanimaram. O Hospital não receberia Plano de Parto (dependeria do "humor" do enfermeiro de plantão -- a justificativa foi que o Hospital ainda estava passando pelo processo de humanização) e Episiotomia ainda é procedimento de rotina por lá -- um "pique" para ajudar o bebê passar caso fique mais de 15min no expulsivo -- algo totalmente desnecessário e ultrapassado, violência obstétrica, mas que no Hospital ainda era comum, pelo modo que a enfermeira obstétrica nos relatou.
Pensamos em outros planos, outros hospitais da cidade, mas quando descobrimos que um médico referência em humanização na cidade ainda fazia manobra de Kristeller e se recusa a assistir o parto em outras posições além da ginecológica (que é a menos favorável para fisiologia do parto, mas a mais cômoda para os médicos), meu mundo caiu. Eu só queria chorar e fugir desesperadamente dali... infelizmente não havia opção: ou era ir pra outra cidade, ou encarar uma grande chance de sofrer violência obstétrica durante o parto.


Um novo horizonte: parto domiciliar (PD) como necessidade
Eu sempre achei o lance do PD muito bacana, mas na minha cabeça era um "luxo", um troço legal, mas que não era essencial. Porém quando senti na pele o despreparo do nosso sistema de saúde pública (o sistema particular ainda mais terrível) para lidar com o parto respeitoso e responsável, percebi que o parto domiciliar assistido não era mais um acessório: era uma necessidade.
Como confiar a minha vida e a vida de minha filha a um sistema no qual a mulher é olhada não como um indivíduo com necessidades próprias, mas como um número, uma probabilidade, um corpo ocupando um leito que precisa rapidamente ser desocupado??? Um corpo cuidado por profissionais em sua maioria cheios de boas intenções, mas tão pressionados pelo sistema que se pensarem um pouco mais fora da caixinha, são atropelados pelo sistema e vencidos pela burocracia!
Pois não dava mais para confiar, meu horror a hospitais apenas aumentou, eu sei que existem alguns Hospitais no Sul/Sudeste que são exceções à regra, mas estavam fora de meu alcance. Então voltamos todos nossos esforços (e quê esforços!) em busca de um parto domiciliar assistido. 
Foi aí que contatei Lia, que veio a ser minha doula, mas que antes disso era minha amiga e teve um PD assistido por uma ótima equipe em Salvador. Ela me deu toda a força pra ir pra Salvador fazer meu PD com a equipe Sobreparto. Falou com a Tanila, uma das EOs da equipe que por sorte conseguiu uma vaga pra mim na agenda do período.


Parto Domiciliar em Salvador: uma nova saga longe de casa
Tenho família em Salvador; minha mãe, minha irmã, os irmãos do meu marido. Mas vou dizer: não é fácil estar longe de casa, não é fácil vencer os medos alheios. Grávida prestes a parir é que nem bicho, precisa de um canto tranquilo, de um ninho onde se sinta segura e longe de histórias tenebrosas... enfim, conseguimos nos aninhar no apê dos meus cunhados que estava bem mais próximo ao Hospital de apoio caso houvesse uma intercorrência qualquer durante o trabalho de parto.

37 semanas e finalmente estava tudo pronto pra ela vir: aninhados, quartinho limpo e arrumado, plano de parto pronto e enviado, material todo comprado, comida congelada, pre natal em dia, comida sem sal, tâmaras, cramberrys, evitando açucar...


O dia, o parto!
39 semanas e estava tentando não ficar ansiosa, minha maior ansiedade na verdade era voltar logo pra casa e que ela nascesse antes das férias do pai acabarem, pois ele teria que ir embora pra nossa cidade quando eu completasse 43 semanas (o que é perfeitamente possível).

Mas a Deusa, em sua infinita sabedoria, trouxe Diana ao mundo no momento perfeito.

Planejávamos acordar cedinho e ir nos despedir da praia, mas que nada! A preguiça falou mais alto. Umas 11:30 levantei da cama, agachei para apanhar umas roupas no chão e só vi "vazando" duas pocinhas rosadas: não havia dúvida! Bolsa rompeu. "Em caso de bolsa rota ligue pra gente imediatamente" disse Tanila, e foi isso que fiz. 

14h- Trabalho de parto latente: Minha doula chegou e eu estava com contrações espaçadas e sem dor. Até ensaiei fazer um bolo com ela, pra "esperar o trabalho de parto ativo", mas foi pegar os ingredientes e as cólicas mais fortes (aquelas que você tem que parar de fazer o que tá fazendo porque dói) começaram. Mas não ritmavam. Lia me sugeriu caminharmos um pouco para as contrações ritmarem; foi um santo remédio. Duas voltinhas no quarteirão e eu não conseguia dar mais um passo sem dor. Voltei e fui tomar um banho quente. Saí do banho com um sensação boa, de afinidade com a água e quis entrar na piscina. Ah piscina... tão sonhada piscina... antes achava que ia parir dentro dágua! Ali as dores intensificaram, comecei a vocalizar, porém  não consegui achar posição confortável. Começava o trabalho de parto (TP) ativo.



[à partir daqui os horários são aproximados, pois em TP ativo perdi a noção do tempo]

~16h- Trabalho de parto ativo: fui para o lado da cama mas não consegui me deitar ou sentar, a única posição que me sentia confortável era em pé ou de joelhos. As vogais da vocalização já começavam a se transformar em gritos guturais pois a dor se tornava cada vez mais intensa, definida e o intervalo entre as contrações mais curto. Era uma dor que vinha avisando segundos antes da sua chegada com uma sensação que percorria o corpo todo como ondas que logo tomavam conta de você e fazem força por você, algo que é incontrolável!
Eu já estava entrando na dita "partolândia" (que pra mim foi um estado de semi-consciência, quando o lado racional cede lugar para a consciência corporal mais sensível) quando Tanila, Lorena (parteiras enfermeiras obstétricas) e Liza (parteira obstetriz) chegaram com todo equipamento pra assistir o parto. Eu só consegui abrir um olho e esboçar um sorriso.
Logo me vi pendurada em meu companheiro que me segurava a cada contração que eu abaixava de dor e amparada pela minha doula atrás. Parênteses: tenham uma doula! É importante no pré, durante e pós parto. Paulo tentava fazer o melhor que ele podia, mas era Lia que conseguia aliviar as dores de cada contração com mãos certeiras. Acho que diminuia uns 40% na dor, era muito aliviante. Eu não abria os olhos mas sabia quem estava me fazendo massagem e pressão nos quadris durante as contrações. Quando era Paulo eu só conseguia gritar "Liiiiiaaaaaa" kkkkkkk
Mas o apoio do meu companheiro durante o TP é algo que não dá pra mensurar. Sem ele, eu não sei como seria, ou se seria.
A cada contração eu sentia que chegava mais perto. A dor ficava mais intensa, mais baixa, eu podia sentir minha neném se aproximando.



~17:40h- Expulsivo: quarto escuro, abafado, até um ventiladorzinho me incomodava. Eu via a equipe no chão em volta de mim com uma lanterninha, anotando, observando e de quando em quando auscutando a neném com minha permissão. Os intervalos entre as contrações pareciam durar menos de 1min. Nestes intervalos eu aproveitava para respirar, tomar uns goles dágua e recobrar as forças porque a próxima "onda" já estava chegando. Eu não sei dizer exatamente quando entrou na fase do expulsivo. Eu acho que foi quando eu urrava de dor a cada contração num gutural tão grave que minha garganta estava ardendo.
Eu sei que apesar da equipe não ter me dito claramente "em que fase" eu me encontrava (provavelmente para não criar ansiedade), eu sentia muito claramente a cabeça de Diana indo e voltando, cada vez mais "fora". Até que um momento eu senti aquele ardor e pensei "círculo de fogo" e gritei "arrrrdeee". Coitada... eu não sabia o que era o verdadeiro círculo de fogo, aquilo só foi um ensaio. Um pouco antes das últimas contrações eu pensei "caramba se doer mais que isso eu não vou aguentar". Eu não lembro o que eu só pensei e o que eu realmente falei pra todos que estavam presentes, mas lembro delas me incentivando dizendo "está mais perto" "Diana está aqui" "cada contração ela está mais perto"... e meu amor me abraçando e aguentando todo meu peso e murros que eu dava nas costas dele quando doía muito.
Até que veio uma contração tão forte e longa e no final aquele ardor de pimenta do demônio multiplicado por 1000 e eu só consegui gritar "socorro".


18:48h Nasceu! Mais uma contração dessa, sem pensar levantei a perna direita e a cabeça saiu!!! Eu estava de quatro, uns poucos maravilhosos segundos de alívio da dor e na próxima contração saiu o corpinho com um pouco menos de dor e ardor.
Eu olhei pra trás e vi aquele serzinho todo coberto de vérnix, toda esticadinha abrindo o berreiro. Mas a única coisa que eu sentia naquele momento foi a sensação maravilhosa de alívio da dor.

Me ajudaram a sentar no chão, eu sentia o cordão passando pelo canal vaginal, sentia que era mesmo curto. Me deram aquele corpinho molinho e quentinho e eu me lembro de ter falado palavras de aconchego a ela, era como se eu tivesse nascido para falar aquelas palavras! E cantei a nossa canção.
Esperaram o cordão parar de pulsar e foi feito clampeamento. Paulo ajudou a cortar! Lorena fez uma massagem na minha barriga e em questão de minutos pari a nossa querida placenta.


Daí pra frente foi só alegria! Me ajudaram a sentar na cama, colocaram-na no meu colo, tivemos nossa "hora dourada": dei de mamar (não sei como consegui essa proeza no momento) pesaram, mediram, aquelas coisas todas junto de mim, apgar 10/10, zero laceração (como diz Tanila, "lavou tá nova" kkkkk)...


Soubemos parir e nascer, eu e minha menina, com todo carinho e apoio de uma equipe maravilhosa, de minha amiga e doula incrível e do companheiro da minha vida, inestimável.

PS.1.: a dor é amiga, ela te faz entrar no estado de consciência necessário pra fazer nascer
PS.2.: foi tudo acontecendo tão rápido que um monte de coisas que planejei não saíram como eu imaginei (playlist de músicas, tocar tambor xamânico, aromaterapia, muitas luz de velas espalhadas pelo quarto...) E que bom que foi assim!
PS.3.: confiar no corpo é essencial. Várias vezes no expulsivo eu senti a tentação de fazer uma "forcinha" a mais pra acabar logo com aquilo. Mas aí eu lembrava dos relatos e de tudo que estudei e com medo de ter laceração, deixei o corpo trabalhar sozinho, deixei Diana ir e voltar quantas vezes ela quisesse. E deu super certo!
PS.4.: Não levei o exame de toque nenhum momento. Pari sem saber quando e quanto dilatei. Isso foi muito bom pra mim!
PS.5.: uma mulher parindo é um ser muito sugestionável. Entre as contrações eu perguntei sobre os vizinhos e o barulho. Meu marido brincou dizendo que estavam fazendo uma reunião de condomínio sobre isso... e eu acreditei! Ainda bem que não me deixei noiar. Em compensação, depois que nasceu, eu estava tão cheia de ocitocina que me tornei outra pessoa: a pessoa mais tolerante de boas do universo. rsrs
PS.6.: as fotos do parto foram tiradas informalmente por minha doula que fez seus malabarismos para não deixar passar em branco. Obrigada mais uma vez pelos preciosos registros!

Sinto uma imensa admiração e gratidão à equipe do Sobreparto que cuidou de nós, especialmente a figura da EO Tanila que esteve conosco todo o tempo desde o primeiro contato pelo whatsapp ainda em nossa cidade. É bonito de ver pessoas fazendo bem aquilo que amam fazer.
Também não tenho palavras para agradecer a minha amiga, doula e fotógrafa Lia, foi e ainda é nessa difícil fase de amamentação e adaptação, meu chão, minha referência, meu ombro amigo.
Minha família; mãe, irmã, cunhados, sogra, sogro, tias... todos tão dispostos a nos ajudarem, cada um dando o seu melhor.
E nunca me cansarei de dizer que me sinto a mulher mais sortuda do mundo por ter um companheiro e pai de minha filha como o que eu tenho.

4 comentários:

  1. A beleza de todas as coisas passa antes pelos olhos de uma alma poderosa capaz de enxergar o belo.

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  2. Parabéns Luísa vc e sua linda família. Belo relato. Sou Valéria Macedo amiga de sua mãe e ex-colega de Paulo na Escola de Musica��bem-vinda Diana!!!!

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  3. Parabéns Luísa vc e sua linda família. Belo relato. Sou Valéria Macedo amiga de sua mãe e ex-colega de Paulo na Escola de Musica��bem-vinda Diana!!!!

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    1. Obrigada! Desculpe a demora, só vi seu comentário agora, na verdade havia um monte de comentários aqui no blog que eu não tinha visto kkkk
      Um grande abraço

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