Quebra-cabeça disponível em Athena loja. Arte por Artur Rios. |
O povo Cashinahua da Amazônia tem um interessante mito para a origem da Lua, das estrelas, do arco-íris e da menstruação. Na minha opinião é um mito dramático, mas em seu final há uma resolução inesperadamente apaziguadora que mostra que até situações adversas e aparentemente irreversíveis podem ser transformadas.
Conta-se que antigamente não havia nem lua, nem estrelas, nem arco-íris e a noite era totalmente escura. Esta situação mudou por causa de uma moça que não queria se casar. Ela se chamava /iaça/ [cf. tupi /jacy/ "lua"]. Irritada com a teimosia da moça, sua mãe a maltratava. Ela fugiu e ficou muito tempo vagando e chorando e, quando quis voltar para casa, a velha não quis deixá-la entrar. "Não abro a porta não!" -- gritou. Estou zangada com você, porque não quis se casar.". Desesperada, a moça corria para todos os lados, batia na porta e soluçava. A mãe ficou tão furiosa com esse comportamento que pegou um terçado (facão), abriu a porta e cortou a cabeça da filha, que saiu rolando pelo chão. Depois, arrastou o corpo até o rio.
Durante a noite, a cabeça rolava e gemia em torno da casa. Perguntou a si mesma: "Eu, o que serei por ventura?" e decidiu se transformar em lua. Assim -- pensou -- só vão me ver de longe." Prometeu à mãe que não guardaria rancor, contanto que ela lhe desses seus novelos de fio. Graças a eles, segurando uma ponta com os dentes, ela foi transportada ao céu pelo urubu. Os olhos da moça decapitada viraram estrelas, e seu sangue, o arco-íris. Desde então as mulheres irão sangrar todos os meses, depois o sangue coagulará e elas terão filhos de corpo preto. Mas se o sêmen coagular, os filhos nascerão brancos. (Levi-Strauss apud Abreu, 1914)
fonte:
A origem dos modos à mesa - Levi-Strauss